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Autor:
Augusto Sales
Qualificação:
Sócio da KPMG.
Site:
www.kpmg.com.br
Data:
09/05/2014
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Ambiente político: luz amarela para os investidores estrangeiros

Ao longo do ano passado, o País foi palco de inúmeras manifestações de brasileiros que foram às ruas em busca de seus direitos, pleiteando, principalmente, mais transparência e melhores serviços públicos. Na lista de reivindicações, estavam questões como o aumento da passagem, falta de investimentos nas áreas da saúde e da educação, gasto do governo com a Copa do Mundo e a corrupção. Com cobertura em larga escala tanto pela mídia nacional quanto pela internacional, os atos ganharam grande repercussão, as imagens correram mundo afora e acenderam a luz amarela para analistas e investidores estrangeiros.

Por essas e outras questões é que o tema “ambiente político” aparece, pela primeira vez, na lista das maiores preocupações dos investidores estrangeiros que procuram o país para abrir um negócio, de acordo com uma pesquisa feita pela KPMG com 400 executivos. Antes encarado como fator periférico nas discussões com os empresários, com a aproximação das eleições e a maior exposição (e cobertura) do Brasil para o mundo, este item se destaca como um dos potenciais entraves para os executivos que buscam oportunidades de negócios. O País tem mantido indicadores não tão atraentes como de dois anos atrás: volatilidade da moeda, aumento consistente taxa de juros, inflação persistente e PIB em desaceleração. Ou seja, a percepção geral é de que a máquina estagnou e não gira no ritmo desejado.

Não há dúvida de que as decisões políticas podem ter grande influência nos planos de investimento das empresas. É de suma importância para os investidores o desenrolar das eleições do país em que pretendem injetar seu capital, pois o resultado das urnas, muitas vezes, pode implicar em alterações (ou manutenção!) na política econômica, no ambiente regulatório, na intervenção maior ou menor do Estado, e consequentemente impactar nos resultados dos negócios. A incerteza quanto a esse aspecto causa certa insegurança, reduz a confiança empresarial, aumentando a percepção de risco, fatores estes que podem ser responsáveis pela queda no volume de investimento no país.

Por outro lado, existe uma lista extensa de fatores positivos que mantém o Brasil na mira dos investidores. Temos uma indústria diversificada, o País tem abundância de recursos naturais e há uma esperança de que os investimentos em infraestrutura ganharão mais força com ajuda do capital privado. Nosso mercado interno é visto como bem atrativo e o aumento do poder aquisitivo do brasileiro ainda desperta o interesse de investidores que estão em busca de uma nova base de clientes. Outro fator que vai revigorar o apetite de quem pretende aplicar o seu dinheiro aqui é a convergência das normas de contabilidade brasileira para o padrão internacional de contabilidade (IFRS).

No contexto capitalista, investir é apostar na habilidade de se obter lucros no futuro. Olhar o desempenho histórico pode ser importante, mas não garante o sucesso de amanhã. Em algumas situações, mais vale colocar dinheiro numa empresa menor com grande perspectiva de crescimento e lucratividade do que num negócio gigante, mas estagnado e com possibilidades limitadas de melhoria de margens. Numa economia globalizada, este mesmo racional pode ser aplicado a empresas e a países. Hoje investidores questionam se seremos capazes de repetir e sustentar o desempenho que tivemos no passado. Cabe ao País provar que sim, e dizer como. Tendo em vista as incertezas e os riscos, mas também possibilidades de retorno ao se investir no Brasil, cabe aos executivos fazerem suas escolhas, o que nem sempre é fácil.


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