Autor:
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Antônio Leopoldo Curi |
Qualificação:
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Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Formulários, Documentos e Gerenciamento da Informação (Abraform). |
E-mail:
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[email protected] |
Data:
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24/09/05 |
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A Matemática da Corrupção
Em trabalho relativo a seu programa de governança e anticorrupção, o Banco Mundial (BIRD) frisa ser a conduta adequada nos dois quesitos aspectos centrais de sua missão de combate à pobreza. O mesmo aplica-se aos países, considerando que o dinheiro desviado pela improbidade deixa de ser investido na economia, na criação de empregos e renda e em áreas sociais. Em estudo anterior, o BIRD havia estimado que a queda de 50% nos índices de corrupção possibilitaria redução de 45% no número de pessoas que vivem abaixo da linha da miséria. No caso brasileiro, isto significaria a inclusão de aproximadamente 35 milhões de habitantes. Estes números evidenciam com clareza matemática os prejuízos acarretados por problemas como o vivido pelo País, que, de quebra, envergonha os brasileiros, recoloca em alto risco a credibilidade internacional da Nação, retarda investimentos e semeia incertezas.
A corrupção é filha pródiga do País, um estigma escancarado em ranking organizado há cerca de cinco anos pela Transparência Internacional, no qual os países são classificados em ordem inversa à sua envergadura ética. O Brasil figura em 59º lugar. Dentre as demais nações do Cone Sul, duas apresentam índices de corrupção menores: o Chile, que ficou na 20ª colocação, e Uruguai, 28ª. No topo da tabela, estão Dinamarca, Noruega, Suécia e Suíça, também campeãs em qualidade de vida. Um dos efeitos graves da corrupção, indicado em distintos textos internacionais, é que ela fere de maneira mais contundente as pequenas e microempresas, com menor capacidade de interferir no tráfico de influência e baixa resistência ao refluxo das ondas de improbidade que batem no setor público e, às vezes, voltam com impacto redobrado à sociedade e com efeito destrutivo nos setores produtivos.
O brasileiro resiste. Alguns dados, como o das exportações, continuam mantendo curva de alta. Entretanto, acendem-se luzes de alerta em importantes indicadores: a produção de documentos fiscais, um preciso termômetro da economia, já apresenta redução de 15% em relação ao ano passado; e o índice de confiança do consumidor caiu de forma significativa. Coincidências? Óbvio que não. Assim, embora seja inevitável o constrangimento e impossível ficar alheio às denúncias diárias que vão surgindo e ampliando a gravidade do quadro político, a sociedade e os setores produtivos precisam manter-se ativos e dedicados à agenda do trabalho e do desenvolvimento. O setor público, incluindo o Congresso Nacional, também não pode parar. Mais do que nunca, é oportuna a realização da reforma política, aprofundando-se a questão do financiamento das campanhas e a sua transparência.
Outra vez, o Brasil tem de renovar suas forças para vencer inoportuno obstáculo político. Os sucessivos casos de corrupção incluem-se entre os mais onerosos e graves empecilhos ao ingresso do País num duradouro ciclo de crescimento. Este danoso vício histórico retarda o desenvolvimento e impõe pesado ônus a toda a sociedade. Números estimativos indicam que a corrupção desvia, em todo o mundo, cerca de 1,5 trilhão de dólares por ano, algo próximo de 5% do PIB planetário. É triste constatar que este dinheiro é tirado exatamente dos que mais precisam dos investimentos do Estado. Mais lamentável, ainda, é assistir diariamente à patética participação do Brasil nesta insidiosa matemática.